Dialética, o berçário da estratégia

Ideias estratégicas nascem de contradições, que comunicam imperfeições da própria lógica de raciocínio

Não raro o raciocínio mostra-se suficientemente lógico e coerente, porque assim o é. E, porque assim o é, logo a lógica descende ao seu mais baixo grau de anomalia e confessamos estar à beira de uma Verdade incontestável.

Uma vez dada a Verdade, lógica e coerente, anomalamente o próprio raciocínio, capaz de contestá-la, por vezes não o faz e se auto-boicota. Se a coerência é sinônimo de conexão entre ideias e se fatos isolados são as variáveis deste contexto,  logo nada mais ilógico do que a coerência.

Reunir ideias e confrontá-las entre si é base da dialética, que, nos alfarrábios filosóficos gregos, é a mãe do verdadeiro significado de um diálogo. Parir ideias é o sentido literal de maiêutica de Sócrates. Para pari-las, nada mais natural do que conectá-las, dividi-las, como fazemos nós seres humanos ao conceber um feto, dividimos células, que se reúnem e se contestam desoxirribonucleicamente, gerando indivíduos únicos.

Assim também o é o pensamento lógico, reúne experiências, fatos e contextos para desenvolver um raciocínio que é individual e intransferível. Mesmo que haja experiências no campo da neurociência que transmitem pensamentos – e isso está acontecendo com ratos e primatas – o ser humano tem o poder da exclusividade em seus pensamentos; por mais que reúnam conceitos e ideias apreendidas ao longo de toda sua experiência, ainda assim são únicos.

Ocorre que, pelo fato de ser pessoal, o raciocínio tem por si só uma imensa capacidade de se auto-confrontar concentricamente e de ser confrontado por outros raciocínios extrinsecamente. Este processo dialético faz-se fundamental para qualquer ação estratégica, nos seus cinco estágios de elaboração (plano, pretexto, padrão, posição e perspectiva) e ainda nos constantes feedbacks. Se não há dialética, não há estratégia. Ou há, porém sem a sustentação necessária para um plano de ação de longo prazo.

Uma Verdade incontestável pode não sê-lo hoje, ou amanhã, ou ontem. Definições estratégicas pressupõem variáveis. Isso não significa que a decisão irá mudar ou que precise ser (re)adaptada. A Percepção – diria novamente, o sexto “P” da estratégia – é essencial nesta medida. E isso os filósofos fizeram e fazem muito bem.

A maiêutica que o diga. O termo foi cunhado com o sentido literal de ciência da maternidade, com o mesmo radical que dá origem à palavra ‘mãe’ (maia, em grego), com o sentido de gerar antíteses e sínteses através de métodos socráticos específicos. Por isso, pode-se dizer que a dialética é o processo inicial, o berçário da estratégia. Preparar o terreno para o berço de ideias é a fase número zero de qualquer plano estratégico.

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